quarta-feira, 15 de março de 2017

Rodopio

Graciosa, a bailarina parece planar.
Forte, traça com firmeza seus passos.
O chão suporta a ponta, que toca e troca.
Ela (não) sabe que uma fenda pode levá-la em questão segundos...
Livre, ela rodopia. Salta. Finge que sabe voar.
E quando o chão se abre, o que fica é o vazio.
Aquilo que sustenta simplesmente a abandona.
Sua certeza se esvai.
Até se dar conta do escuro à sua volta, existe, resiste.
Parece que esquece que mesmo bela precisa ter onde pisar.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Passadas


Eu a flutuar
eu a amar
eu a esperar.


Eu que senti
eu que vivi
eu que arrisquei.
Eu a esperar.


Foi provado
foi chorado
foi presente
sou passado.
Eu a esperar.


Fui tentativa
fui dúvida
fui escolha
fui ontem
sou hoje.
Eu a esperar.


Sorri
cansei
cai
fiquei.
Eu a esperar.
 

Parei
virei
entendi
abri.

Eu a caminhar.

sábado, 19 de outubro de 2013

No centro, um ponto

No centro, um ponto
Tão incerto quanto ao que é certo
Tão frágil mas tão preciso
Seguro de que está vivo

Preenchido de emoção
Buscando os passos da razão
Planando, tentando

Vestido de segurança
Sente, sofre e descansa
Repousa enquanto pensa

Feliz de ser ponto
Flutua junto a outros
Esbarra, troca e chora

Sabe que cresce, sabe que busca saber
Sabe que quer ser feliz

Um, feito de tantos
Coletânea de si, pedaços de outros

Vive só. Vive?
Existe só
Resiste só
Só em meio a tantos
Só em meio a tudo

Certeza de ser tentativa
Certeza de ser ponto.
E só, ponto.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Cronicando: Esfumaço


Pisquei em cores.

Não me lembro quando foi a última vez em que me dei conta de ter piscado. Até agora. Primeiro, esfreguei os olhos. Depois, pisquei de novo – dessa vez voluntariamente. E mais uma vez. Várias vezes. Dei uma risada nervosa ao me lembrar de Saramago...

Me roubaram algo.

Praticamente não consigo me lembrar como era antes. Para onde foram todas as cores? Por onde olho, vejo lembranças vagas das imagens antes nítidas e tão coloridas. Até já tinha notado que algumas cores da minha caixa estavam faltando... E que uma fumaça vinha encobrindo as minhas telas... Só que agora encontro apenas uma variação que fica entre o preto e o branco.

Como era um dia atribulado (não que a maioria não seja), não pude parar para descobrir o que estava acontecendo, apesar do incômodo que aquilo me causou. Sabe dor crônica? Se instalou ali, de um jeito que não me deixava esquecer que algo estava errado e ia mal.

Notei que aquilo tinha grudado em mim. Tudo parecia tão normal para uns e outros, mas ainda assim perguntei se sabiam daquilo que se passava comigo. Muitos riram, um riso nostálgico, quando falei das minhas cores. Outros, pouco deram importância ou então disseram nem se lembrar do não-cinza.

Acordei banhada de cinza.

Quadros que ficavam tão belos agora simplesmente são. Aprendi a colocar borrões.

Percebi que tudo estava em seu lugar, o mesmo cenário tingido de um só. Tudo igual, só que menos. Ou mais – mais duro, mais frio, mais longe. Nas mesmas cenas, basta apenas continuar escolhendo – e quanto menos, melhor. Encaro o cinza, sou cinza, vivo o cinza.

Sozinho, o cinza é. O cinza está. O cinza tem. Tem uma beleza sofrida, doída, sentida. Traz uma certeza conformada, emburrada. Consciência bruta, escancarada e opaca. O cinza ocupa.

Ah... Cores.

Ouvi dizer que tem jeito de voltar a colorir as telas. Voltar? Algumas pessoas querem me dar lápis novos, de cores belas, lindas até. Talvez elas combinem... Algumas mais sóbrias... Outras iluminadas... Os lápis que ganhei estão na minha caixa, são importantes. Também dizem que tem gente que já formou uma coleção.

Mas.

O conjunto completo, repleto de cores sem fim, esse sumiu, deixando em um cinza sóbrio tudo que ao piscar de olhos se seguiu.

domingo, 12 de agosto de 2012

“A última festa da última pequena virando grande”


Uma amiga costuma falar que rituais são importantes para marcar algumas passagens na vida da gente. E outra, do mesmo grupo de amigas, chegou à conclusão que dá título a este post justamente quando fomos passar por um desses rituais.

Festa de formatura: gente dançando, gente bebendo, gente rindo. Em resumo, descontração, alegria e muita, muita risada. Mas essa teve um “quê” a mais, algo diferente. Foi a festa da última das amigas do grupo a se formar. E isso veio como um estalo: agora entramos todas, definitivamente, no mundo adulto. 

Putz. Mais uma vez uma mistura de sensações. Aquela turma reunida, fechando um ciclo. Um fim. Um ponto. Uma comemoração de despedida e ao mesmo tempo de abertura para o novo. Entre um gole e outro, uma música e outra, o comentário dito quase em tom de piada, com um riso nervoso, era: “agora, gente, festa só de despedida de solteiro, casamento e chá de bebê. E daí pra frente, bodas”. A ficha caiu.



! ! !

Engraçado, mas com uma certa realidade mórbida, chegando quase como um presságio assustador. E a parte de não ter hora para voltar? De beber um pouco (ou muito) mais? De dançar, como se nada mais pudesse importar? E de não se preocupar com o depois, com os pés doloridos no dia seguinte, com a semana que vai começar?

Ok... Parece exagero – claro que a vida adulta não acaba com a diversão. Mas aqui estou falando sobre um ritual – uma passagem. Escrevo um blog, mas se fosse um livro, diria que aqui se encerra um capítulo. Outras comemorações virão, baladas, risadas, enfim, mas o universo que até então era conhecido, seguro e descompromissado, acaba aqui. A inocência quase inconsequente de adolescente se esvai, misturando-se com a fumaça da noite.

A sensação que me toma não é ruim, como pode estar parecendo. É uma consciência, ainda sem forma, como um sonho quando estamos quase a despertar. Não é nítido, mas está lá em algum lugar. Uma vez sonhado, lembrado, deixa uma marca, um marco. 

Respiro... Suspiro... Sei que faço parte da cena que ao mesmo tempo estou a observar. Em meio às luzes piscantes, sei que são muitos os olhos que miram comigo para o futuro. 
Olhos que viram juntos o mundo mudar, que enxergam agora a página virar. Olhos de novas “gentes grandes” que vão me acompanhar.

Algumas coisas vão deixando de ter graça. A hora passa. E vou lembrando de tudo o que me fez chegar aqui. De quem passou pelos mesmos passos. Vou acreditando que nesse grupo de amigas mora uma cumplicidade coletiva, insconsciente, mas que sabe ser e estar. Pego a ficha que caiu e aposto ela bem aqui. Jogo em um jogo desconhecido, formado por pedras iguais. E jogo junto com elas sem saber onde vamos chegar, apenas com a certeza de que vamos continuar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Documentos, documentos e mais documentos

Se tem uma coisa com a qual você tem que aprender a lidar quando é gente grande é com DOCUMENTOS. E quantos. E como.

Uma amiga uma vez disse: “Ser gente grande é guardar documentos”. Uma boa representação de como todo mundo passa a ter essa consciência em algum momento, assim como eu.

Me dei conta da importância de arquivar documentos de forma minimamente organizada quando fui passar pelo meu primeiro desligamento e conseguinte contratação. De tantos itens na lista de “O que trazer”, acho que só não pediram um comprovante de tipo sangüineo.

Nessa situação, tive que resgatar documentos que eu nem sabia que seriam usados em algum momento – e aí o medo de não tê-los mais. Pânico total! Onde está a certidão de nascimento? O comprovante de escolaridade do ensino superior (e o do ensino médio!!!)? E o CPF? Aliás, alguém ainda anda com o cartão do CPF? Pois é, mas tive de achá-lo também.

Por sorte, os documentos que não são carregados para cima e para baixo na carteira todos os dias estavam esquecidos e espalhados pelo meu quarto. Boa chance para reunir todos em um só lugar e de fácil acesso. Algo como: minha pasta, minha vida. Perdê-la ou a qualquer item que ela guarda significa tensão e horas gastas para recuperar o conteúdo – o que ainda me faz ter certa preocupação sobre os cuidados a serem tomados com ela.

E a partir dessa saga toda, percebi que, assim como minha amiga comentou, se tem algo que representa ser gente grande, são esses documentos. Claro, antes alguém podia fazer o controle de todos eles. Mas agora, se eu mesma não cuidar dos originais, históricos e comprovantes (e um pouco mais), quem mais vai tê-los? E só lembrar o trabalho que dá tirar segundas vias ou entrar em contato com estabelecimentos para achar as informações necessárias que já dá dor de cabeça.

Mas afinal, por que tantos pensamentos em torno desse assunto? Bom, se os símbolos nos revelam alguma coisa, quem sabe se os documentos não são símbolos que servem para nos mostrar que somos os únicos responsáveis por nós mesmos? Se a resposta for sim, perceber isso é mais um passo para realizar que você cresceu e está no mundo de “gente grande”.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ser gente grande é difícil.

Há algum tempo, comecei a notar que venho repetindo essa frase muitas vezes, em diversas situações. Não por acaso, muitos amigos concordam comigo quando eu faço essa afirmação. E aí parei e percebi que isso retrata muito bem o momento em que me encontro na minha vida, mas também o de várias pessoas que estão nessa fase de transição. Então, porque não registrar e compartilhar essas descobertas, dores e alegrias de “virar gente grande”?

A situação que se apresenta é a seguinte: tenho 23 anos, me formei em dezembro de 2009 e de estagiária virei mais uma trabalhadora do Brasil. Minha “experiência profissional” é de pouco mais de três anos e uma das responsáveis por me gerar tantos questionamentos.

Quando se é adolescente, você começa a perceber que tem responsabilidades – mas nem tantas e ser um pouco inconsequente faz parte da vida. Afinal, estamos na faculdade e esse tempo não volta mais! Aí... Aí as coisas começam a mudar. Aparecem situações que exigem escolhas mais importantes, cujas consequências estão nas suas mãos. E a responsabilidade começa a pesar.

Putz, sou eu que tenho que cuidar da minha própria vida, sozinha. Xiii, o carro deu problema, mas acho que dá pra segurar... E agora, todo mundo parece ter um objetivo tão claro na vida, mas qual o meu? O despertador tocou, e não é aula que dá pra faltar, é trabalho. Obaaa, chegou o final de semana, quero muito dar um jeito de encontar minhas amigas! Mas estou tão cansada da semana corrida...

Pode parecer que muitas dessas perguntas sejam bobas ou facilmente solucionáveis. Mas, em uma cabeça cheia desses pensamentos o tempo todo, a cena fica confusa.

Claro que cheguei a pensar que eu estava ficando louca, exagerando a coisa toda. Mas aí entram os meus amigos, que partilham dessas mesmas discussões internas.

Então, para tentar por ordem na casa (ou nessas cabeças fervilhantes), aqui estou eu, para desabafar, trocar experiências e principalmente dividir as angústias que aparecem no caminho de amadurecimento.

É, estou em construção. Em processo de crescimento. E descobrindo o mundo de todo mundo que, assim como eu, é gente grande.